O segmento de venda de livros porta a porta no Brasil, responsável por
levar obras a regiões que não contam com livrarias, e um mercado em
constante expansão, é tema de matéria escrita pelo PublishNews para a
Publishing Perspectives, newsletter diária enviada a profissionais do
mercado editorial internacional. Leia o texto logo abaixo.
De Volta ao Futuro: No Brasil, as vendas de livros porta a porta estão crescendo
Imagine um único país que ocupe 50% da América do Sul. Um país com 27
estados onde vivem 190 milhões de pessoas em diferentes condições.
Alguns são muito pobres, outros, riquíssimos. Este é o Brasil. Uma
nação de tão vasta oferece oportunidades muito reais – o mercado
livreiro continua crescendo ano a ano no Brasil – mas também grandes
desafios. O maior deles é a distribuição de livros.
Existem 5.565 cidades no Brasil e apenas 3.000 livrarias. Se levarmos
em conta a população, veremos que há uma livraria para cada 64.255
pessoas. A maioria das livrarias encontra-se nas mãos de grandes
grupos industriais e ou de famílias, muitas delas localizadas nas
áreas mais desenvolvidas. Livrarias independentes são raras. A região
Sudeste do país é a mais desenvolvida e concentra mais de 56% de todas
as livrarias. O Norte, uma das regiões menos favorecidas, conta com
apenas 3% do total.
Pesquisas recentes revelam que os brasileiros leem 4,7 livros por ano.
Este índice cai para 1,3 livros por pessoa quando se excluem os livros
escolares. O resultado disso é que o povo demonstra uma falta de
interesse pelo livro e as livrarias não se sentem motivadas a abrir
lojas fora das regiões mais desenvolvidas, a Sul e a Sudeste.
Contudo, é impossível saber qual o verdadeiro responsável por índices
tão baixos, especialmente fora das principais áreas urbanas. Será
mesmo um desinteresse crônico pela leitura? Ou, simplesmente, a
dificuldade de se adquirir livros onde não há livrarias?
Se o crescimento das vendas porta a porta for considerado um fator
indicativo, poderia se dizer que há, sim, uma fome palpável por livros
em áreas que não são servidas por redes de lojas. De fato, o porta a
porta está provando que é uma opção muito importante de distribuição
para as editoras. Em 2006, o porta a porta representou 5% de todas as
vendas. Em 2008, este número cresceu para 13%, e em 2009, o segmento
encostou nos 17% do mercado. E durante todo esse processo, as
livrarias não perderam seu lugar no mercado, mostrando que o negócio
está crescendo em todos os segmentos, tendo o porta a porta, talvez,
como o mais robusto.
De acordo com a Associação Brasileira de Difusão do Livro, existem
30.000 vendedores de livros porta a porta no Brasil e 32 editoras
especializadas em suprir esse setor. A entidade calcula que os
editores faturaram R$ 668 milhões em 2009, representando um salto em
vendas de 74%, se comparadas às de 2008. Em 2010, as vendas porta a
porta foram estimadas em R$ 1 bilhão, correspondendo a um avanço de
80%, e sendo responsáveis pela venda de 23,8 milhões de livros (de um
total de 386 milhões comercializados no país).
Entre as empresas de venda de livros porta a porta, a mais importante
é a AVON que possui uma ampla rede de representantes de vendas, tendo
se tornado uma parceira vital para os editores. Muitos editores
desenvolvem edições exclusivas e geralmente baratas para o catálogo da
AVON. Ser incluído no catálogo da AVON é também a menina dos olhos dos
autores, pois garante-lhes uma grande exposição e vendas
significativas.
À medida que a economia do Brasil crescer, será cada vez mais provável
que as livrarias se aventurem em cidades mais remotas. Enquanto isso,
aqueles sem acesso ao livro deverão contar com os vendedores porta a
porta, auxiliando no aumento do índice de leitura e, por sua vez,
aumentando a demanda. Desta forma, o porta a porta torna-se um círculo
virtuoso que provavelmente estará levando os leitores, editores e
livreiros brasileiros rumo a um futuro melhor.
Autores: Ricardo Costa e Maria Fernanda
